Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

respirar

...

41. Manhã (adiantada)

Estava tudo preparado. Os livros destinados. Os textos queimados. As missivas lacradas. As roupas não lhe interessavam, mas bem vestido se via refectido na janela. O trânsito circulava ruidoso para lá do quadrado vidrado. Trespassou-lhe o pensamento: porquê o perfume? Sentiu um recuo involuntário. Pintou um retrato distorcido. Esboçou uma dança impar: mas funestos acordes soaram do quarto; gemidos imaginados derrotaram-no. Desceu à dor: conhecida, a queda. Afundou-se na maré sem-volta. Uma ida límpida lacrimejou no vagante olhar. Um sossego raro brilhou na adormecida arma. A mão encorajada pela paz engatilhada. De súbito, do cano frio, um clarão: vivo: o Amor não tem corpo. Disparou a decisão: cantar a Sua profundeza à superfície revelada.

11:41:59